sexta-feira, 27 de junho de 2008

“Mais importante do que dar anos à vida é dar vida aos anos”

Elsa Vilão, Técnica Superior de Serviço Social, Centro de Saúde de Eiras

Quem já não vivenciou, partilhou ou teve conhecimento das dificuldades de ter de cuidar de “alguém” que, independentemente da idade, está privado da sua autonomia!

Quem já não assistiu ao drama do “sentimos que não somos capazes de fazer tudo”, “estamos exaustos, já não gerimos a vida familiar, profissional e social sem conflitos, sem angústia”, “sinto-me sozinha e impotente”, “o apoio domiciliário prestado não é o suficiente” “o lar está posto de parte pela incompatibilidade económica e pela nossa própria vontade”, “não podemos deixar de trabalhar para cuidar dele”

Sabemos que o envelhecimento demográfico, o desenvolvimento da medicina, bem como o desenvolvimento da indústria farmacêutica, determinam novas necessidades em saúde e conduzem ao aparecimento de um grupo significativo de doentes, para os quais, independentemente da idade e dos problemas decorrentes da sua perda de autonomia, urge organizar respostas adequadas à crescente necessidade de cuidados continuados, de forma personalizada, de qualidade e em proximidade, muito diferente do modelo de intervenção na doença aguda.

As próprias transformações sociais e políticas ocorridas nas últimas décadas, devido à evolução que a sociedade tem sofrido, introduziram mudanças significativas na vida e na dinâmica das populações. Surgiram novos domínios, novas formas de organização, novos estilos de vida, novos comportamentos sociais e familiares.

Contudo, continuam a ser as redes de suporte familiar, e vizinhança, que asseguram a continuidade de cuidados quando é necessário.

É óbvio, que o envolvimento da família na prestação dos cuidados ao doente, constitui uma ferramenta imprescindível para optimizar a capacidade de cuidar e simultaneamente, preservar o prolongamento da vida com qualidade, conforto, paz, confiança e amor.

Mas ao ser a mais directa e imediata fonte de apoio social, papel do qual jamais poderá ser desresponsabilizada, pode ao ser confrontada com as novas exigências do cuidar para as quais não está preparada, inevitavelmente ser conduzida para a revolta, desespero, insegurança, abandono, medo, vindo a tornar-se totalmente incapaz de prestar todo e qualquer apoio.
É premente reequacionar as redes de apoio e reajustá-las às novas necessidades.
O serviço de apoio domiciliário convencional já não satisfaz. É necessário envolver a comunidade, fazendo emergir o voluntariado, redireccionar esforços trabalhando em rede e parceria, criando novas formas de apoio (apoio domiciliário 24 horas, teleassistência, simples acompanhantes, centros de noite, prestadoras de cuidados, equipas multidisciplinares).
As famílias ao sentirem que não estão sozinhas, cada vez mais vão ter e querer os seus doentes consigo e perto de si.

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