sábado, 19 de julho de 2008

Varizes / Derrames

António Alegre, Médico do Centro Saúde de Eiras / Director

Com a evolução da espécie humana e antes de se atingir o “Homo Sapiens” (Homem Inteligente), passámos por várias etapas, entre elas a de “Homo Erectus” (Homem de pé), pois apesar de gostar de Adão e da Eva, não os encontro na minha árvore genealógica.
Desde que tal se verificou, é lícito pensar que a doença venosa se instalou, pois está intimamente relacionada com a nossa posição vertical.
A doença ou seja “a doença venosa crónica”, (falamos necessariamente dos membros inferiores), pois existem varizes em outros locais (ex: no esófago), inclui desde pequenos derrames (telangiectasias) que não têm significado patológico mas sim estético, até aos casos mais graves (varizes e até úlceras).
Existem vários factores de risco como sejam, genéticos, hormonais (a pílula), a obesidade, a gravidez, a idade, o sexo (mais nas mulheres), os hábitos e estilos de vida, a profissão e até a própria moda, pois é sabido que a roupa apertada realça as formas e diga-se em abono da verdade, é bonito de se ver, mas compromete algumas estruturas vasculares (veias essencialmente), favorecendo o aparecimento da doença venosa.
O local normal de aparecimento desta patologia remete-nos para as pernas, com o seu
cansaço, prurido (comichão) e cãibras, sendo que no final de cada dia aquela sintomatologia se acentua.

Se algum destes sintomas surgir, fale com a sua equipa de saúde, pois uma simples avaliação, uma história clínica bem elaborada e talvez uma ecografia especial (eco-doppler), facilitam o diagnóstico, o qual deverá ser tão precoce quanto possível, determinando ou não, a necessidade de uma atitude terapêutica.
As vulgares varizes deveriam ser tratadas numa fase precoce evitando assim males maiores, havendo já quem defenda que toda e qualquer mulher após uma gravidez deveria submeter-se a um estudo da sua situação venosa.
O tratamento ser-lhe-á proposto pelo seu médico de família, podendo passar pela cirurgia convencional ou até de técnicas com laser, à esclerose (secagem), sendo que a prevenção é e será sempre a melhor opção.
Nada melhor que os exercícios físicos favorecedores do retorno venoso (natação e hidroginástica), bem como o uso regular de “meias de descanso”, (fale com o seu médico quanto às características das mesmas, pois nem todas são iguais), descansar com as pernas mais elevadas (veja telenovelas com as pernas elevadas, ou seja com o tornozelo acima da raiz das coxas), massagens, enfim, há sempre algo que se pode fazer em prol de uma saúde cada vez melhor.
Tenha em atenção que esta doença atinge cerca de 80% de toda a população, não devendo nem podendo ser considerada tão banal quanto isso.
Tenha umas boas pernas e umas pernas boas!!!

Protecção do Cancro da Pele

Inês Rosendo, Médica Interna de Medicina Geral e Familiar do Centro de Saúde de Eiras

Os raios solares – ultravioletas A (UVA) e ultravioletas B (UVB) – fazem mal à sua pele.
Eles levam tanto ao aparecimento de rugas, como provocam cancro da pele mesmo sem apanhar “escaldões”. Os solários têm também estes efeitos, pois usam essas mesmas radiações. São os UVB os principais causadores dos efeitos nocivos, apesar de se saber que os UVA podem causar também lesões, mas mais lentamente.
Assim, o cancro da pele tem mais tendência a aparecer em locais da pele mais expostos como a cara, pescoço, orelhas, mãos, o peito dos homens e a parte de trás das pernas das mulheres.
As pessoas que têm cabelo louro ou ruivo e têm olhos claros, que têm sardas ou muitos sinais, que se queimam facilmente pelo sol, trabalham no exterior, tiveram uma queimadura solar grave, têm pessoas na família com cancro da pele ou usam regularmente solários, têm mais risco de ter cancro da pele.
Para prevenir o cancro da pele, devemos evitar o sol (especialmente entre as 10h e as 16h, sendo que entre as 11h e as 13h são as horas mais críticas), usando roupa de tecido não muito fino e um chapéu de abas largas para proteger a cara, o nariz, os lábios, pescoço e ficando na sombra a maioria do tempo que estiver na praia. Lembre-se que as nuvens e a água não o protegem dos raios solares, podendo até tornarem-se mais prejudiciais por não se sentir tanto o calor. Deve, no início das suas férias, começar por se expor pouco tempo ao sol e ir aumentando de dia para dia esse mesmo tempo. Sempre que estiver mais exposto ao sol, deve usar protector solar com factor 15 ou mais elevado, em todos os locais da pele onde o raios solares podem chegar, incluindo as orelhas, parte posterior do pescoço e zonas de calvice.
Os bronzeadores não o protegem permanentemente da radiação.
Devemos voltar a colocar protector solar cada 2 a 3 horas, depois de transpirar ou de ter estado na água. Devemos preferir mais estar em movimento do que estar parado ao sol, afim de evitar expor as mesmas áreas a uma grande quantidade de raios solares.
Muito importante é verificar regularmente (1 vez por mês) se tem lesões suspeitas na pele e, se sim, contactar o seu médico de família, pois quanto mais cedo for detectado o cancro da pele, mais hipóteses tem de ser curado. A melhor maneira de o verificar é usando um espelho, não esquecendo a planta dos pés nem a cabeça (pode pedir ajuda a alguém).
Deve pesquisar “sinais” de aparecimento recente (depois dos 30 anos), que apresentem algum sinal de gravidade e que são apelidados de ABCDE: Assimetria (não ser igual dos dois lados), Bordo irregular (bordos difíceis de distinguir ou onduladas), Cor escura (especialmente se mudança de cor recente e se tem várias tonalidades ou cores), Diâmetro grande (se tem mais de 2cm ou cresceu rapidamente), Elevação (ter uma superfície rugosa e saliente). Outros sinais também importantes, são o facto de sangrar, ter uma ferida que não cicatriza ou que provoca dor.

Para saber mais:

http://www.dermo.pt
http://www.manualmerck.net/
http://www.arsc.pt/

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)

Tiago Santos, interno do 1º ano de Medicina Geral e Familiar do Centro de Saúde de Eiras
Introdução
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é o nome de um grupo de distúrbios respiratórios crónicos e progressivos, caracterizados por fenómenos obstrutivos. Os dois principais processos de obstrução são o Enfisema, uma dilatação dos alvéolos (os pequenos sacos de ar dos pulmões), e a Bronquite Crónica, uma inflamação das vias aéreas com secreções excessivas de muco, que resulta em tosse crónica persistente com expectoração.

Epidemiologia
A DPOC é a quarta causa mais frequente de morte. O tabagismo é o principal factor de risco: a DPOC desenvolve-se em aproximadamente 10 a 15 % dos fumadores, e o risco de morte pela doença é maior neste grupo da população.

Mecanismos de doença
Substâncias tóxicas ou irritantes provocam reacções inflamatórias dos alvéolos, que caso sejam prolongadas podem evoluir para lesões permanentes. Fumar é nocivo para as defesas do pulmão, porque prejudica os mecanismos de eliminação das substâncias tóxicas. Estas lesões acabam por causar retenção de ar nos pulmões, diminuindo as trocas de oxigénio por dióxido de carbono entre os alvéolos e o sangue.

Sintomas
A primeira manifestação da DPOC é a tosse com expectoração, e geralmente aparece ao fim de 5 a 10 anos de tabagismo. Pode haver também tendência para “resfriados”, com respiração ruidosa (frequentemente descrita como “apitos”). Mais tarde pode surgir falta de ar, agravada por infecções respiratórias frequentes.

Diagnóstico
As alterações à auscultação são geralmente inespecíficas, assim como as verificadas numa radiografia do tórax, pelo que o melhor método para diagnosticar a DPOC é através da Espirometria, a medição da função respiratória: um padrão obstrutivo sugestivo de DPOC estabelece o diagnóstico.

Tratamento
Se o doente é fumador, o melhor tratamento para a DPOC é deixar de fumar! Adicionalmente existem vários medicamentos disponíveis, tais como os broncodilatadores e corticosteróides. A administração de oxigénio pode ser necessária em fases mais avançadas. As crises agudas devem-se frequentemente a infecções, casos em que o tratamento com antibiótico é benéfico. A vacinação contra a Gripe é recomendada em todos os doentes com DPOC.

Prognóstico
Pode variar desde favorável nos casos de obstrução ligeira, até francamente desfavorável em casos de obstrução grave, daí a importância do diagnóstico e tratamento precoces a fim de procurar controlar a evolução da doença, com a melhoria consequente na qualidade e quantidade de vida do doente.

Febre na Criança

Anabela Baptista, Enfermeira Especialista S. Infantil do C.S. de Eiras


Uma criança com febre é sempre motivo de preocupação para os pais. Mas nem sempre essa preocupação deve ser entendida da mesma forma. A febre é antes de mais um sintoma de que algo no organismo da criança merece especial atenção. Acontece por vários motivos e o que pretende é sinalizar que algo não se encontra a correr como habitualmente e assim, em situações diversas como vacinas, inflamações ou infecções, o centro de regulação interna (termóstato) do organismo da criança altera, fazendo com que a febre surja.
Para saber se a criança tem febre não basta, contudo, palpar a testa ou outra parte do corpo e assegurar que está quente. Assim a temperatura deve ser medida através de um termómetro: tradicional, digital, infravermelhos ou descartáveis. A medição também poderá ser obtida em diferentes locais: rectal, oral, axilar, auricular ou na região frontal (testa).
Normalmente, é considerado que uma criança tem febre se a sua temperatura se situa acima dos 37,5º (oral ou axilar) e 38º nos restantes locais.
Se a criança tem febre mas o seu comportamento e nível de actividade não se alteraram, ou seja, se a criança continua activa, a brincar e a comportar-se como habitualmente deve ser vigiada a temperatura em intervalos de 6 ou 8 horas. É evidente que o apetite poderá diminuir e a criança pode referir mais sede que o habitual.
Assim, devem ir sendo administrados, à criança, líquidos, deve ser desagasalhada mas de maneira a ficar confortável, administrar-se um antipirético se se encontrar queixosa, e, quando a criança começa a ficar transpirada deve ser feito um banho à temperatura do corpo (37º).
Deve ser levada a uma Unidade de Saúde sempre que:
- A temperatura acima dos 38,5ºC não baixe com o antipirético administrado,
- Seja um bebé com menos de 3 meses,
- A febre não desapareça ao fim de três dias,
- Apareça em conjunto com a febre, náuseas, vómitos, diarreia, dor de ouvidos, rigidez do pescoço, dificuldade em respirar ou engolir, manchas, borbulhas, sonolência ou irritabilidade,
- Surjam convulsões
.
Até à idade de cinco anos, uma subida muito rápida da temperatura pode dar origem a Convulsões, em que todo o corpo da criança treme sem que ela consiga controlar os seus movimentos. Nesta situação, tem de se evitar que a criança se magoe e para isso ela deve ser afastada de tudo o que a possa magoar. Nunca deve colocar-lhe algo na boca ou dar-lhe comida ou bebida pois a criança pode sufocar. Após a crise é essencial que a criança acorde num ambiente calmo e deve ser observada por uma equipa de saúde, se for a primeira vez, que acontece.

Não esqueça, que para além do Centro de Saúde, possui à disposição a linha telefónica de atendimento pediátrico (24h/dia) - Dói, Dói…Trim,Trim…808242400

Uma nova Epidemia: Obesidade Infantil

Andreia Rocha, Enfermeira Graduada do C.S. de Eiras

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a obesidade na Europa tem vindo a atingir proporções epidémicas, triplicando a sua prevalência nas últimas duas décadas.
Este aumento também se verifica entre as crianças e adolescentes, com grande impacto negativo para a sua saúde.
Em Portugal 30% das crianças entre os 7 e os 11 anos têm excesso de peso, aumentando o risco de desenvolver doenças como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e problemas de sono, já para não falar de problemas psicossociais decorrentes do estigma de “ser gordo”. Têm ainda grande probabilidade de permanecer obesos na idade adulta e desenvolver doenças mais graves, reduzindo a qualidade e a esperança de vida.
Na base deste problema estão duas causas principais: a alimentação e o sedentarismo.

Alimentação
Hoje assiste-se a um abandono da dieta tradicional portuguesa, substituindo-a por hábitos alimentares muito menos saudáveis, importados de outros países.
A utilização do pão, do azeite, do peixe, da fruta e dos legumes está a ser substituída por alimentos como as pizzas, os hambúrgueres, a comida previamente confeccionada que se coloca no microondas e os refrigerantes com gás.
Por outro lado, a publicidade dirigida às crianças está recheada de chocolates, cereais com açúcar, bolos e fast-food, incentivando ao consumo através da oferta de brindes, da utilização de desenhos animados e de mensagens de felicidade.

Sedentarismo
As crianças, sobretudo as que vivem nas cidades, passam o tempo em frente da televisão, do computador e de jogos electrónicos. Deixaram de realizar actividades ao ar livre, como correr, jogar à bola, andar de bicicleta. Isto prende-se muito com a falta de espaços e de segurança para o fazer, mas também com a falta de motivação das crianças e de incentivo dos pais, que se reflecte na pouca importância atribuída à disciplinar escolar Educação Física.

A resolução deste problema é complexa, envolvendo famílias, escolas, comunidades, autarquias e governo central e deve incidir na promoção da alimentação saudável e da prática de exercício físico regular, bem como no controle da publicidade dirigida às crianças, como já é feito em alguns países.

No entanto, todos nós, pais, podemos dar o nosso contributo através do exemplo que damos em casa aos nossos filhos. Deixo aqui algumas sugestões:
- Criar hábitos alimentares saudáveis em casa;
- Não premiar as crianças com doces ou outros alimentos prejudiciais;
- Acompanhá-las na prática de actividades físicas ao ar livre;
- Limitar horário da televisão e do computador;
- Proporcionar brinquedos e brincadeiras activas, mesmo em casa (Ex.: bolas saltitonas, balões, lutas de almofadas);

Ao fazermos isto estaremos a cuidar para que as nossas crianças se transformem em adultos saudáveis.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O medicamento: porquê, para quê e como?!

Luiz Miguel Santiago, MD - Chefe de Serviço no Centro de Saúde de Eiras

Quem de nós não tem hoje em casa quase uma “farmácia”?

Quem de nós não tem familiares, ou só conhecidos, ou nós mesmos, que precisam de tomar medicamentos para curar uma doença aguda, como uma amigdalite, ou para controlar outra, crónica, como a tensão arterial alta, um mal estar psíquico, ou dores graves contínuas nas articulações, ou uma asma ou uma bronquite, ou mesmo a diabetes ou o excesso de colesterol!

Pois é, o medicamento está hoje muito presente nas nossas vidas e no nosso dia a dia.

Tomamo-lo por vezes porque a dor de cabeça é insuportável e noutras até nem o tomamos porque é uma maçada ter de todos os dias engolir uma cápsula ou um comprimido por causa de uns valores que estavam alterados nas análises de rotina! E noutros casos até nem os tomamos porque, apesar de receitado, este mês houve outras despesas e já não há orçamento para tudo!!!!

E nem pensamos no que está em causa na relação “doença/medicamento”!

Se no caso da dor de cabeça (aqui apenas como um exemplo) com um “medicamento” para as dores ficamos melhor e sabemos, quer por experiência própria quer porque no-lo disseram, que não há risco de o tomar por períodos curtos e porque a doença é benigna e transitória, noutros casos e noutras doenças já o mesmo não sucede.

As doenças diagnosticam-se pela apresentação de queixas e verificação por sinais, depois confirmados por exames analíticos ou outros.

E as doenças, muitas vezes, necessitam de “tratamento” por medicamentos.

Os medicamentos podem ajudar a controlar a doença. Há indicações exactas para a utilização de cada medicamento, que os médicos conhecem, não sendo indiferente o tipo de medicamento a usar para uma doença num indivíduo em particular e com uma história própria.
Mas se uma doença pode apenas ter controle e não cura, é de toda a importância que quem está doente e vai ter de tomar medicamentos, seja informado e perceba essa informação do porquê de os tomar, das consequências de os tomar e do que esperar por os tomar e… aceite conscientemente a necessidade de os tomar.

O medicamento, sabe-se por estudos realizados, pode permitir obter um determinado resultado se tomado em certa dose, em determinado horário, por um certo período de tempo e se for ajudado por medidas, não forçosamente medicamentosas, que o doente deve aceitar realizar.

E o medicamento tem um preço a pagar na farmácia quando é comprado, que pode até ser bastante elevado, pelo que investir dinheiro no próprio corpo e utilizá-lo mal, até pode parecer um contra-senso!

Se utiliza um produto para “curar” uma doença e este faz efeito, o resultado pode desaparecer assim que o deixe de tomar, pelo que é bom que perceba porque o deve tomar e queira ter informação sobre os seus medicamentos.

Ou seja:
Há indicação para receitar medicamentos;
Há alguém, o doente, que os vai ter de tomar .
Esse alguém, deve ter informação sobre a razão de tomar medicamentos para conscientemente aceitar o tratamento e,
Esse alguém, passa a ser o responsável pela toma da sua medicação.

Acidente Vascular Cerebral - AVC

Conceição Castro, Enfermeira Especialista em Saúde Pública

DEFINIÇÃO
Os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) ocorrem quando há uma interrupção do aporte de sangue a uma área do cérebro. Pode surgir devido à obstrução de uma das artérias que irrigam o cérebro, denominando-se acidente vascular cerebral Isquémico ou pode ser provocado pela ruptura de uma artéria do cérebro e subsequente perda de sangue para os tecidos circundantes, designando-se acidente vascular cerebral Hemorrágico.
Privadas de sangue ou encharcadas em sangue as células nervosas morrem e libertam substâncias químicas que vão destruindo as células vizinhas provocando lesões cerebrais de graus variáveis.
As consequências do AVC variam, mas são frequentemente dramáticas para os doentes e suas famílias, pois originam deficits a vários níveis tais como na motricidade, na linguagem, nas emoções ou na memória, alterando o seu quotidiano. As alterações motoras caracterizam-se por paralisias completas ou parciais no hemicorpo oposto ao local da lesão que ocorreu no cérebro. O prognóstico depende do tipo de AVC, da área cerebral afectada, e da extensão das lesões.

INCIDENCIA
Embora se tenha verificado em Portugal um decréscimo de mortes por AVC, nos últimos anos, as taxas verificadas por doenças cérebro vasculares continuam a ser das mais elevadas na união europeia. Segundo o Plano Nacional de Saúde (2004-2010), as doenças Cérebro vasculares encontram-se entre as principais causas de morbilidade, invalidez e mortalidade em Portugal, sendo responsável por grande impacto a nível individual, social e económico.

FACTORES DE RISCO
Os factores de risco aumentam a probabilidade de AVC, mas, podem atenuar-se com tratamento médico ou mudanças nos estilos de vida. Quanto maior for o número de factores de riscos identificados, maior será a probabilidade de ocorrência de AVC.
Os principais factores de risco de AVC são: hipertensão arterial, aterosclerose (endurecimento das artérias por depósito de gordura nas suas paredes), diabetes Mellitus, colesterol elevado [níveis elevados de LDL (mau colesterol) e redução de HDL (bom colesterol) precipitam a formação de placas de aterosclerose], doenças cardíacas (arritmias, enfarte do miocárdio, e problemas nas válvulas cardíacas), o uso de contraceptivos hormonais, obesidade, tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, e a idade (a probabilidade de ocorrência de AVC aumenta com a idade).

PREVENÇÃO

A prevenção é o principal factor de combate ao aparecimento do AVC, esta é baseada no ataque aos factores de risco.
A adopção de uma vida saudável em que sejam banidos o tabaco, o excesso de álcool, as gorduras e açucares, e em que se faça exercício de forma regular, são determinantes nesta prevenção. Quando alguns factores já estão instalados, tais como, hipertensão arterial, diabetes ou colesterol, é fundamental a sua vigilância e controle.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Diabetes

Paula Lopes, Enfermeira Graduada do C.S. Eiras - Extensão de S. Paulo de Frades

A diabetes é uma doença crónica muito comum. Segundo o Inquérito Nacional de Saúde afecta 6,5% da população Portuguesa.
Prevê-se que haja cerca de 200 a 300 mil pessoas com diabetes não diagnosticadas. Há um aumento de cerca de 40% desta doença nos últimos 20 anos. São dados que a todos nos devem preocupar.
A diabetes deve-se à falta de secreção de insulina por parte do pâncreas e/ou à diminuição do seu efeito. É esta hormona que permite a utilização como energia dos hidratos de carbono dos alimentos, originando assim a sua falta um aumento do açúcar no sangue.
Existem 2 tipos de diabetes:



  • Diabetes Tipo 1 – tem início na infância e/ou adolescência, podendo também aparecer noutras idades. Deve-se à destruição das células produtoras de insulina no pâncreas, o que leva a uma deficit absoluto da mesma, pelo que é obrigatório a administração de insulina.

  • Diabetes Tipo 2 – surge normalmente em idades mais avançadas e é dez vezes mais frequente do que a Diabetes Tipo 1. É caracterizada pela associação de falta parcial da produção de insulina com um aproveitamento inadequado da mesma. É primordial a realização de uma alimentação equilibrada e exercício físico. No entanto, pode ter de se recorrer a anti - diabéticos orais (comprimidos), insulina ou ambos.
    Este tipo de diabetes pode passar despercebida durante muito tempo. É frequente que existam pessoas na família com diabetes.

Para o diagnóstico da diabetes é geralmente realizada uma análise ao sangue em jejum no laboratório. A diabetes confirma-se quando o valor é igual ou superior a 126mg/dl em duas ocasiões. Quando o valor se encontra entre 110-125 mg/dl considera-se que existe uma glucose anormal em jejum. Abaixo de 109mg/dl considera-se normal.
Não podemos esquecer que a obesidade aumenta 2 a 3 vezes o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, a hipertensão arterial aumenta 5 a 6 vezes o risco de doença coronária e enfarte do miocárdio, o colesterol alto associa-se ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, o tabaco também aumenta o risco de morte por doença cardiovascular.
Uma diabetes descompensada leva a complicações graves ao nível:

- dos olhos em que as mais frequentes são: cataratas; glaucoma e retinopatia que é a mais grave das complicações oculares e que podem mesmo levar à cegueira.

-dos rins (nefropatia) – as lesões dos rins podem-se prevenir através da normalização das glicemias e da tensão arterial.

- dos pés – o mau controlo da diabetes a longo prazo pode ser responsável por 2 tipos de problemas:



  • uma diminuição da sensibilidade á dor (neuropatia sensorial)

  • uma diminuição da capacidade em receber mais sangue quando é necessário (arteriosclerose)
    Para prevenir problemas graves nos pés deve-se realizar um bom controlo da diabetes, boa higiene dos pés, examinar os pés diariamente (se for difícil para o utente, use um espelho ou, peça ajuda a outra pessoa), deve manter os pés secos e limpos, não usar meias nem sapatos apertados, limar as unhas em vez de as cortar. Em caso de aparecimento de alguma ferida deve contactar a sua equipa de saúde.
    - dos acidentes cardiovasculares – a arteriosclerose pode provocar Acidentes Vasculares Cerebrais ou enfartes. Pode ser prevenido através do controlo da diabetes, da hipertensão arterial, da obesidade e níveis elevados de colesterol, diminuição do uso do tabaco e de hábitos sedentários.

Esta é uma doença crónica que como o nome indica não tem cura, mas que estando controlada permite ao utente ter uma boa qualidade de vida.
É importante que os profissionais de saúde e os utentes parem para pensar nestes números preocupantes, que os pais e encarregados de educação parem para pensar na alimentação que estão a dar aos seus filhos, porque a prevenção tem de começar na infância. Deste modo se poderá evitar situações de obesidade infantil que poderão predispor o indivíduo para esta doença quando atingir o estado adulto.

Alimentação Saudável: Motivação Precisa-se

Margarida Rodrigues, Enfermeira Graduada do Centro de Saúde de Eiras


Sobre alimentação saudável muito se tem falado e continua a falar-se. A informação chega às nossas casas através da televisão, jornais, panfletos distribuídos nos Centros de Saúde, nas Revistas da Farmácia, etc.
Se em outros tempos era a falta de conhecimento que prevalecia, hoje em dia esse problema não se coloca. Mas então qual a razão para o contínuo aumento de doenças como a diabetes, a obesidade, etc? Questionamo-nos: onde é que reside o problema?
Na motivação para alterar hábitos de anos! Na vontade de fazer uma alimentação equilibrada! No tempo para a preparar! No dinheiro! Ou será que estas são só desculpas para uma sociedade que está pouco motivada?
Primeiro, vamos motivar-nos, vamos tomar consciência da importância de uma alimentação saudável e em seguida, vamos agarrar no conhecimento e colocá-lo em prática.
É fundamental ter uma alimentação variada, optando por alimentos mais saudáveis sem, contudo, ter que abdicar por completo, daqueles alimentos menos saudáveis de que tanto gostamos. O segredo está na frequência do seu consumo, ou seja, alimentos saudáveis devem ser consumidos diariamente e várias vezes ao dia, e os menos saudáveis uma a duas vezes por semana.
Por outro lado, é premente procurar estabelecer um equilíbrio entre a energia que se consome e a energia que se gasta, ou seja, não se deve consumir mais energia do que aquela que se consegue gastar. É também essencial fazer 5 a 6 refeições por dia, ou seja, distribuir os alimentos ao longo do dia, e não estar mais de 3 – 4h sem comer. O objectivo é “comer pouco e bastas vezes”, educando o organismo a eliminar a energia conforme é consumida. Caso contrário, se ficarmos muitas horas sem comer, o organismo vai ter necessidade de reter energia, provocando uma acumulação de gordura e o consequente aumento de peso.
Os valores de energia médios recomendados pela Direcção-Geral da Saúde para adultos saudáveis variam usualmente entre as 1800 e as 2500 calorias (1500 a 1800 calorias para as mulheres e 2000 – 2500 calorias para o homem), tendo sempre em atenção o estilo de vida da pessoa, nomeadamente o gasto ou não com actividade física.
Exemplo de um esquema alimentar:
Pequeno-almoço:
- 1 Copo de leite meio-gordo
- Cereais não refinados
- Uma peça de fruta


Meio da manhã:
- 1 Iogurte
- 3 Bolachas simples


Almoço:
- Sopa de legumes (2 conchas)
- Peixe ou carne
- Massa ou batata ou arroz
- Hortícolas (salada, nabos, couves)
- 1 Peça de fruta


Meio da tarde:
- Peça de fruta
- 1 Pão escuro ou mistura


Jantar:
- Refeição semelhante à do almoço, de preferência em menor quantidade, procurando alternar sempre o peixe e a carne e variar na fruta consumida à sobremesa.


Antes de ir para a cama, se tem por hábito deitar-se mais tarde, deve neste caso comer / beber:
- Uma infusão quente de cidreira ou camomila
- 2 Bolachas simples


Faça da água a sua bebida de eleição, bebendo no mínimo 1,5 l de água por dia.


EXPIRIMENTE E SINTA A DIFERENÇA!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Enurese Nocturna (chi-chi na cama)

António Alegre, Médico do Centro Saúde de Eiras / Director

A enurese nocturna (EN) é um dos problemas urológicos pediátricos mais comum nos Cuidados de Saúde Primários (CSP).
Todo e qualquer médico de família deve estar sensibilizado e preparado para facultar, essencialmente aos pais, uma orientação e ou atitude terapêutica, pois este “desagradável” problema afecta psicológica e funcionalmente a criança e seus familiares.
É comummente aceite que a prevalência (nº de crianças) com EN aos sete anos é de 6% a 10% o que, convenhamos que se diga, apesar de não parecer muito elevado, não é de todo normal, e o médico nunca deve menosprezar aquela patologia.
É um facto que aos 15 anos a prevalência de EN é de cerca de 1% a 2% e, que se saiba, esta patologia tende para os 0% à medida que a idade avança, não tendo conhecimento de qualquer caso em plena “noite de núpcias”.
A EN é mais prevalente no sexo masculino que no feminino (relação de 3 rapazes para 2 raparigas).
É de extrema importância e isto já em atitude “terapêutica”, o médico de família perceber se a EN esteve sempre presente, ou se a mesma apareceu após um período de continência (ausência de EN), pois daí deriva, necessariamente, a orientação junto da criança e ou familiares.
Os pais e o médico de família, devem indagar se a criança tem perturbações do sono (recentes ou crónicas), se ressona com apneia (suspensão momentânea da respiração, comum nas crianças saudáveis e inofensivo), o tipo e quantidade de líquidos ingeridos à noite, os medicamentos que está a tomar, a postura da família perante o problema, o nascimento recente de um irmão(ã), enfim, um sem número de situações que podem desencadear a EN.
Na tentativa de ajudar a resolver esta patologia, o tratamento deve ser facultado quando a situação constituir um problema para as crianças.

Adaptar o tratamento à verdadeira causa é o objectivo primeiro da intervenção médica, sendo que alterações comportamentais com envolvimento dos pais é simples e seguro, mas exige alguns “sacrifícios”. O seu benefício principal centra-se no reforço positivo face às “noites secas” e nunca no negativismo da vergonha ou do castigo, perante “noites molhadas”.
Além das alterações comportamentais, sempre imprescindíveis, temos também o recurso à terapêutica. Com a “desmopressina” (entre outros), obtêm-se resultados visíveis muito rapidamente.
Mas... o seu Médico de Família, saberá qual a melhor solução para o problema e estará obviamente disponível para ajudar a criança e a família.
Não critique, apoie antes o seu filho.
Somos médicos dos Cuidados de Saúde Primários, não pela insignificância dos actos, mas pela dignidade de sermos os primeiros.

Asma

Inês Rosendo, Médica Interna de Medicina Geral e Familiar do Centro de Saúde de Eiras

A asma é uma doença dos pulmões.
As vias aéreas (que conduzem o ar desde o exterior até ao final dos pulmões e vice-versa) das pessoas com asma, são muito sensíveis a algumas coisas, ou porque são alérgicos a elas (alergenos) ou porque causam uma irritação (irritantes). Assim, quando entram em contacto com estes alergenos ou irritantes, as vias aéreas ficam inflamadas, incham e ficam com menos espaço para o ar passar. Ainda estreitam mais por causa dos músculos que se encontram à sua volta e porque é produzido um muco no seu interior. Dá-se, então, a chamada “crise de asma”. Os sintomas nesta situação são a falta de ar, a pieira (como um miado de gatos) e a tosse.
Para evitar ter estas crises, devemos tentar evitar os alergenos ou irritantes (pó, pólen, fumo de tabaco, pêlo de animais, exercício físico, mudanças te temperaturas, algumas comidas, perfumes, aspirina, emoções, infecções por virus etc.) quando os conhecemos e sabemos que as desencadeiam.
Para tratar estas crises há que tomar medicamentos, normalmente inalados (directamente para as vias aéreas). Os asmáticos com crises repetidas, devem tê-los sempre com eles e, por vezes até administra-los de uma forma prévia. Alguns asmáticos com crises muito frequentes, podem ter necessidade de tomar outros medicamentos diariamente para evitar tais situações, devendo ser seguidos por um médico regularmente.
Os asmáticos podem ter uma vida como todos os outros, necessitando para o efeito de algumas precauções para evitar os tais alergenos ou irritantes e devem saber controlar os seus sintomas.
A maioria das asmas iniciam-se em criança e a maioria destas não continuam para a vida adulta. Podem estar associadas a rinite alérgica e a eczema atópico, havendo normalmente um padrão hereditário considerável.
A rinite alérgica manifesta-se por uma grande sensibilidade a certos alergenos o que leva a uma resposta, desta vez na mucosa do nariz, provocando espirros seguidos, o nariz a pingar uma aguadilha incolor e sensação de nariz tapado. Esta pode ser sazonal (se só aparecer em algumas épocas do ano), perene (durante todo o ano), ou mista (se os sintomas se agravam em algumas épocas do ano mas persistem todo o ano). Pode associar-se a olhos congestionados (conjuntivite alérgica).
Se suspeitar de rinite alérgica, deve recorrer ao seu médico de família afim de eventual diagnóstico e terapêutica pois existem outros tipos de rinites que não são alérgicas...
É essencial prevenir a rinite alérgica afastando aquilo que a causa (evitar passear no campo nos meses de agravamento, ter a casa e o quarto bem limpos e sem pó, evitar os animais que causam sintomas etc.) Existem alguns medicamentos que podem ajudar a controlar as crises.
Consulte a equipa de saúde do seu Centro de Saúde.

Para saber mais:
http://www.spaic.pt/textos/?imr=9
http://www.arsc.pt/
http://www.manualmerck.net/