sexta-feira, 13 de junho de 2008

Relação Médico / Utente

António Alegre
Médico do Centro Saúde de Eiras / Director

Nem só falar e escrever de doenças é útil aos cidadãos e profissionais de Saúde

Assim, hoje e no âmbito da “Educação para a Saúde”, tomo a liberdade de abordar um tema de reflexão sobre o relacionamento médico / utente.

A terminologia de “Médico de Família”, como hoje se denomina, não é de forma alguma inovadora no que aos conceitos diz respeito, pois se nos reportar-mos a tempos idos, todos tínhamos o “Médico da Família”, normalmente sedeado na sua área de residência, a qual quase sempre coincidia com a dos seus progenitores.

Era o tal “regresso às origens”.

Era um médico que cuidava de todos os membros da família fossem eles crianças, grávidas, adultos jovens ou mais velhos, enfim até era confidente e conselheiro, tudo isto a troco, tantas vezes, de uma avença traduzida em géneros alimentares ou outros bens por eles produzidos.

Não lhe faltava nada e até tinha arte e sapiência.

Os tempos efectivamente mudaram e ainda bem. A tecnologia instalou-se, o corporativismo é um facto, a relação médico / utente / doente não pode ser mais a mesma e o”livro amarelo” é uma realidade, tantas vezes utilizado como coacção psicológica. É um instrumento muito útil, que pode e deve ser usado na satisfação dos direitos dos utentes e serve exclusivamente para isso. Temos consciência (profissionais de saúde e alguns utentes), que fazemos muitas coisas boas e bem feitas, as quais não são elogiadas (é tão simplesmente o seu dever), mas o mais pequeno deslize é de imediato objecto de reclamação, sem a tal tolerância que deve presidir a todo o relacionamento humano e é pena.

O utente nem sempre tem razão, mas tem algumas vezes.

Hoje, as necessidades de um cidadão / utente e algumas vezes doente, têm as mais variadas vertentes, pois ele é a declaração para o infantário, ginásio, a piscina, para a prática desportiva, para a carta de condução, para o uso e porte de arma, o tal atestado justificativo da evicção laboral ou a sua validação pelo S.N.S. ( Serviço Nacional de Saúde )e até para possuir uma determinada raça de cães, mas também se recorre ao médico quando, efectivamente, se está doente ou se sente necessidade de fazer o célebre “ Cheek up “ anual.

Este consumismo exagerado e nem sempre legitimado, retira e consome tempo à tradicional prática do acto médico, criando também um constrangimento e até conflito laboral entre o utente e a sua entidade patronal, pois “tanto” absentismo facilmente justificável é, como dizia a “tia” Adozinda (96 anos)…”desmasiado”.

Em algumas situações, o doente quando vai ao seu médico de família, já navegou na Internet e associou os sintomas que o apoquentam com um auto diagnóstico, quase sempre incorrecto, mas crítico quanto aos eventuais E.A.D.(s) (Exames Auxiliares de Diagnóstico) que pretendia que o seu médico de família lhe passasse e ele não passou.

Tanta informação para tão pouca formação.

Como era diferente o exercício da medicina antigamente….

O aspecto mais importante do relacionamento médico / utente é a “arte” da comunicação e neste particular deveremos escutar, que não é necessariamente só ouvir o utente ou o doente, interiorizar as suas preocupações, as suas queixas, avaliar e decidir, informando-o e co-responsabilizando-o na eventual atitude terapêutica.

Nenhum médico, só por si, pode prometer a cura a um doente.

Se estiver ou pensar que está doente, contacte sem pressas, o seu Centro de Saúde, onde encontrará sempre uma equipa disponível para o ajudar e dentro das capacidades instaladas, a resolver o seu problema.

Mais importante que conhecer a doença, é conhecer a pessoa doente e isso, nós especialistas de Medicina Geral e Familiar, sabemos fazer.

CENTRO DE SAÚDE DE EIRAS
TELF. 239499500

5 comentários:

Anónimo disse...

Discurso muito pomposo e que cada pessoa que o lê interpretará conforme a sua "formação".... lamentável é que este discurso contenha esta frase:

Tanta informação para tão pouca formação.

Quer dizer que apenas os senhores doutores têm formação!!! Quantas pessoas se dirigem ao Centro de Saúde porque realmente não se sentem bem e têm mais formação do que quem os está a atender?!?!?
O povo português tem sim uns costumes brandos, porque se denunciasse mais vezes situações caricatas que se passam nos centros de saude, ou se a "caixa de sugestões" fosse esvaziada com mais frequência, algo mudasse ...
Já assisti a uma cena nesse centro em que uma senhora deixou uma reclamação quando estava grávida, e passado meses numa das vezes que se dirigiu ao centro de saude com o bébé, a reclamação ainda se encontrava na caixa!!
Ou outra situação em que alguém se dirige ao centro de saúde porque se encontrava com amigdalite - e não é preciso muito formação para se saber que se está com amigdalite - essa pessoa é questionada pela médica #Como é que sabe que está com amigdalite?" e a doente responde: "veja" ... abriu a boca e nem foi preciso espátula! com a agravante de a doente ter informado a médica de que era alérgica à penicilina e a médica, assim mesmo lhe ter receitado medicamento com penicilina!!! ....
Muito mais cenas poderia descrever, para quê ..... serei mais uma das pessoas que até pesquisa a internet e não tem formação!!!!!!

Patrícia Marques disse...

Pode haver coisas más, em todo o lado há. Eu no caso deste centro de saúde só tenho que dizer bem, já há varios anos que sou lá utente e só tenho bem a dizer. Sempre fui bem tratada por todos. Durante a minha gravidez escolhi ser seguida no centro de saúde e tive um médico excelente. Tenho que agradecer ao Dr. Luiz Santiago, á enf. Margarida e enf. Anabela por sempre terem tratado bem a mim e á minha filha. O pediatra da minha filha, é o médico de familia, e já por várias vezes foi necessario ser observada por emergencia e sempre fui atendida. A todo o corpo administrativo e médico desta instituição só tenho a dizer... Bem hajam.
O que é bom também tem que ser revelado.

Aldina Simões disse...

Subscrevo na íntegra as palavras da Sra. Patrícia Marques.
Realmente a equipa do Doutor Luiz Santiago é formidável, só espero que a conservem por muitos anos.

Anónimo disse...

"Os tempos efectivamente mudaram e ainda bem. A tecnologia instalou-se, o corporativismo é um facto, a relação médico / utente / doente não pode ser mais a mesma e o”livro amarelo” é uma realidade, tantas vezes utilizado como coacção psicológica. É um instrumento muito útil, que pode e deve ser usado na satisfação dos direitos dos utentes e serve exclusivamente para isso. Temos consciência (profissionais de saúde e alguns utentes), que fazemos muitas coisas boas e bem feitas, as quais não são elogiadas (é tão simplesmente o seu dever), mas o mais pequeno deslize é de imediato objecto de reclamação, sem a tal tolerância que deve presidir a todo o relacionamento humano e é pena."
Interessantes estas palavras do Sr. Director.....
Estive doente 3 dias com uma gastroentrite, diarreias contínuas,febre alta, etc... e fui medicado pelo Sr. Doutor que escreveu as palavras acima transcritas! O meu estabelecimento de ensino pediu-me a justificação das faltas desses três dias. Falei com o mesmo Sr. Doutor
e solicitei-lhe o atestado comprovativo de doença e a sua resposta foi: Vá à secretaria e peça o papel em como esteve na consulta! Disse-lhe que não servia pois o estabelecimento escolar exigia o atestado ou documento equivalente em como eu tinha estado doente!
Resposta do Sr. Doutor: Eu sou médico e quem manda aqui sou eu! A Directora da não manda em mim nem me pode obrigar a passar documento nenhum. Portanto pode sair.
E não passou.... e eu tive 3 faltas injustificadas pois a ida à consulta não queria dizer que eu tinha estado de cama de cama três dias e impossibilitado de ir às aulas... E esta Hem!
Se fosse hoje, pedia o tal" livro amarelo" e daria conhecimento superiormente uma vez que o Sr. Doutor uma vez que o Sr.Dr também é o Director do Centro. Bem... se calhar nesse dia estava mal disposto...
Maria

Ana disse...

Bem...

De facto este "Post" do Sr. Dr está muito bem elaborado. Gostava que não passassem apenas de meras palavras e que se repercutisse este espírito nas atitudes e comportamentos de alguns médicos.

O melhor que ouvi da minha médica de famíli deste mesmo centro de saúde foi:
" Ana, não deve fazer o rastreio do colo do útero porque só se deve fazer a partir dos 25 anos...(quando já estou mais do que na idade)...não convém também fazer outros exames ginecológicos devido às radiações que levam cerca de 5 anos a passar..."

O que devo eu pensar???Será que ela tem razão e por isso não devo fazer exames de prevenção??

Melhor ainda...
Diagnosticou uma bronquite à minha mãe sem fazer qualquer tipo de exame só porque ela se queixava que lhe doía o peito. Quando na realidade ela estava com uma grave infecção pulmonar e retenção de líquidos pelo corpo todo...

Como é que lhe detectou a bronquite???Pelo hálito???
ahahha...só se foi...

Enfim...e mais não vale a pena falar....

Afinal nós só reclamos...reclamamos...e não vemos as coisas boas...Pena que não consiga mesmo ver nenhuma!!!!

Se não estão para ajudar...por favor...não atrapalhem...deixem que sejam outros médicos realmente competentes a fazê-lo!!!!
Só precisam reencaminhar...mas nem isso já são capazes de fazer...