terça-feira, 12 de agosto de 2008

Medicamentos: E depois de tomados…




Luiz Miguel Santiago, MD Chefe de Serviço no Centro de Saúde de Eiras

Já alguma vez se perguntou sobre o que acontece após engolir um medicamento ou tê-lo colocado na pele? Ou após lhe ter sido injectado ou administrado de uma outra qualquer forma?

Certamente já percebeu que quando tem fome, porque o seu corpo acha que há pouco açúcar a circular, só consegue resolver tal problema comendo. E depois de comer voltará a ter fome daí por umas horas. E se comer demais ou se comer muito poucas vezes por dia, mas comendo muito ou sobretudo certos tipos de alimentos, virá a ter reflexos no seu corpo, nomeadamente um pouco mais de barriga, maior cansaço, pior qualidade de vida e até mesmo, a prazo, outras doenças que podem ser motivadas quer pelo excesso quer pela falta ou carência!

Pois bem: com os medicamentos passa-se exactamente o mesmo!

Quando, por exemplo engole uma cápsula ou um comprimido, este vai para o estômago e daí par o intestino delgado. Tanto num como no outro é absorvido, isto é, entra na corrente sanguínea e com o sangue vai a toda a parte do nosso corpo, ou seja, depois de absorvido é distribuído e, ao ser distribuído, entra em contacto com todas ou quase todas as mais pequenas partes do nosso organismo, onde vai poder modificar algumas funções do corpo - que é o que se pretende que aconteça - no bom sentido entenda-se. Esta actuação do medicamento chama-se farmacodinâmica. Até esta fase tomámos algo que depois de ingerido, foi absorvido e fez efeito!

Ao mesmo tempo que se distribui em todo o corpo, o medicamento, entra em contacto com órgãos que o modificam por forma a que, de apenas misturável em gordura, passe a ser misturável em água, ou seja, o nosso corpo faz aquilo que tecnicamente chamamos de farmacocinética. Assim o medicamento passa a ser eliminado quer pelas fezes quer pela urina, locais onde também muitas vezes é eliminado sem ter sido alterado pelo corpo.

Temos assim duas características importantes da relação entre medicamento e organismo :- o que ele nos faz, a farmacodinâmica e o que nós lhe fazemos, a farmacocinética.

Isto é mais ao menos igual ao que nos acontece com os alimentos.

Só que quando falamos em medicamentos e alimentos, falamos também de muitas outras acções que podemos desencadear no nosso corpo, como por exemplo os remédios caseiros.

Definindo remédio como o produto que se compra na ervanária (o chá), o tratamento de acupunctura, quando toma remédios de médicos de outras medicinas, ou aquilo que prepara em casa segundo receita que lhe deram ou de que soube, é bom saber que estes não são mais que formas de administrar ao corpo substâncias que até são capazes de modificar funções como os medicamentos. Acerca dos remédios, nós não sabemos exactamente quanta substância é ingerida em cada chávena de chá, nem qual o exacto componente que actua, enquanto que no medicamento sabemos isso tudo. E ainda sabemos que muitos dos medicamentos, aquilo que é receitado pelos médicos, até são desenvolvimentos a partir dos remédios, por não haver capacidade de encontrar matéria prima na natureza para a quantidade de substância necessária à industria farmacêutica.

Os menos novos lembrar-se-ão ainda das mais antigas farmácias, onde se arranjavam os linimentos, os manipulados, os xaropes e as pomadas, após a entrega de uma receita feita por um médico. Dava-se a receita e íamos lá, mais tarde, levantar o frasco com um rótulo e um escrito explicativo.

Muitas pessoas tomam remédios e medicamentos, sendo que ambos são transformados pelo nosso organismo ou seja, ambos têm farmacocinética! Por vezes concorrem um com o outro, pelo que podem aparecer sinais e sintomas que se julgam devidos a uma doença nova, mas que afinal apenas são devidos a acções entre eles, o que também acontece com alimentos e outros medicamentos. Assim sendo, a informação ao seu médico de família sobre o que está a tomar, é certamente muito importante para o seu bem-estar e qualidade de vida.


1 comentário:

Gabriel Oliveira disse...

Boa tarde, Dr. Luiz Santiago. E como enquadra os remédios da medicina alternativa, neste contexto? Podem ser uma mais-valia, ou representam um perigo superior ao benefício, na sua opinião?
Deixo-lhe um exemplo, a minha mãe tem em casa um "xarope de Aloé Vera", que lhe recomendaram, e toma um colher daquilo antes das refeições, para uma "limpeza ao organismo" (foi como tal que ela me apresentou o dito xarope). Aprova a medida?
Um abraço,
Nuno Gabriel Oliveira