quinta-feira, 21 de agosto de 2008

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: QUEM CALA CONSENTE...



Andreia Rocha, Enfermeira Graduada do C. S. de Eiras

“A violência doméstica mata mais mulheres do que o cancro”; “Em Portugal, registam-se 5 mortes por mês, colocando... acima da média mundial”; “...anualmente, quase 60 mulheres são mortas pelos seus companheiros”...

Estes são apenas alguns dos números associados à violência doméstica no nosso país. Contudo, este não é um problema exclusivamente nacional, nem tão pouco um fenómeno novo. De facto, sempre existiu, associado à desigualdade entre os sexos. Hoje é um problema com maior visibilidade devido à redefinição dos papéis do homem e da mulher na sociedade e da valorização desta última.
O que é, então, a violência doméstica? Trata-se da violência que ocorre no seio de uma relação íntima ou familiar. Pode traduzir-se por agressões físicas, abusos sexuais, mas também por maus-tratos psicológicos, sendo estes últimos a forma mais frequente de violência e também a que menos é vista como tal.
Nem só as mulheres são vítimas de violência doméstica. Qualquer pessoa, seja qual for o seu estatuto social, económico, cultural, religião ou idade o pode ser. Podem ser homens, idosos, crianças, jovens... podem ser pais, avós, filhos, cônjuges, companheiros ou namorados... mas são sobretudo mulheres! Em Portugal, os dados conhecidos em relação à violência doméstica revelam que 85% das vítimas são mulheres. Por outro lado, 89% destes crimes foram cometidos pelo cônjuge ou companheiro.
Muito raramente a violência doméstica surge como uma situação isolada, pelo contrário, habitualmente ocorre durante anos seguidos, com repercussões muito graves para a saúde física e mental das mulheres.
A prevenção desta situação tem a ver com cada um de nós e com a sociedade em geral. Passa pela educação dos jovens, promovendo valores como a igualdade de direitos e a cidadania.
Podem também suspeitar-se de potenciais agressores através de alguns sinais de alerta, nomeadamente:
· Grande possessividade, controlo e interferência no dia-a-dia e nas relações da mulher;
· Desvalorização da mulher, desautorização e insultos em público;
· Condutas violentas anteriores com outras mulheres;
· Acessos de fúria repentinos e sem sentido;
· Forma rígida de pensar, convencido de que tem sempre razão;

Romper com uma relação violenta não é fácil, exigindo uma grande dose de coragem e um apoio familiar e social sólido. Implica enfrentar o medo, a vergonha, a descriminação. Mas uma vez conseguido, a mulher é livre para começar uma vida nova, para si e para os seus filhos.
Também as pessoas violentas devem tomar a iniciativa de procurar ajuda afim de modificar o seu comportamento.
Em Portugal, desde 2000 que a violência doméstica é considerado crime público, isto é, qualquer pessoa que tenha conhecimento da sua existência, pode e deve denunciá-lo. Ficar calado é ser conivente com a sua existência.
Informe-se no seu Centro de Saúde.

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