segunda-feira, 7 de julho de 2008

Enurese Nocturna (chi-chi na cama)

António Alegre, Médico do Centro Saúde de Eiras / Director

A enurese nocturna (EN) é um dos problemas urológicos pediátricos mais comum nos Cuidados de Saúde Primários (CSP).
Todo e qualquer médico de família deve estar sensibilizado e preparado para facultar, essencialmente aos pais, uma orientação e ou atitude terapêutica, pois este “desagradável” problema afecta psicológica e funcionalmente a criança e seus familiares.
É comummente aceite que a prevalência (nº de crianças) com EN aos sete anos é de 6% a 10% o que, convenhamos que se diga, apesar de não parecer muito elevado, não é de todo normal, e o médico nunca deve menosprezar aquela patologia.
É um facto que aos 15 anos a prevalência de EN é de cerca de 1% a 2% e, que se saiba, esta patologia tende para os 0% à medida que a idade avança, não tendo conhecimento de qualquer caso em plena “noite de núpcias”.
A EN é mais prevalente no sexo masculino que no feminino (relação de 3 rapazes para 2 raparigas).
É de extrema importância e isto já em atitude “terapêutica”, o médico de família perceber se a EN esteve sempre presente, ou se a mesma apareceu após um período de continência (ausência de EN), pois daí deriva, necessariamente, a orientação junto da criança e ou familiares.
Os pais e o médico de família, devem indagar se a criança tem perturbações do sono (recentes ou crónicas), se ressona com apneia (suspensão momentânea da respiração, comum nas crianças saudáveis e inofensivo), o tipo e quantidade de líquidos ingeridos à noite, os medicamentos que está a tomar, a postura da família perante o problema, o nascimento recente de um irmão(ã), enfim, um sem número de situações que podem desencadear a EN.
Na tentativa de ajudar a resolver esta patologia, o tratamento deve ser facultado quando a situação constituir um problema para as crianças.

Adaptar o tratamento à verdadeira causa é o objectivo primeiro da intervenção médica, sendo que alterações comportamentais com envolvimento dos pais é simples e seguro, mas exige alguns “sacrifícios”. O seu benefício principal centra-se no reforço positivo face às “noites secas” e nunca no negativismo da vergonha ou do castigo, perante “noites molhadas”.
Além das alterações comportamentais, sempre imprescindíveis, temos também o recurso à terapêutica. Com a “desmopressina” (entre outros), obtêm-se resultados visíveis muito rapidamente.
Mas... o seu Médico de Família, saberá qual a melhor solução para o problema e estará obviamente disponível para ajudar a criança e a família.
Não critique, apoie antes o seu filho.
Somos médicos dos Cuidados de Saúde Primários, não pela insignificância dos actos, mas pela dignidade de sermos os primeiros.

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